segunda-feira, 9 de maio de 2011

Vizinhos e Internautas (1º ano)

Vizinhos e Internautas
            Estudiosos do comportamento humano na vida moderna constatam que um dos males de nossa época é a incomunicabilidade. Já foi tempo em que, mesmo nas grandes cidades, nos bairros residenciais, ao cair da tarde era costume os vizinhos se darem boa noite, levarem as cadeiras de vime para as calçadas e ficar falando da vida, da própria e da dos outros.
            A densidade demográfica, os apartamentos, a violência urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada indivíduo no casulo doméstico. Moro há 20 anos num prédio da Lagoa, tirante os raros e inevitáveis cumprimentos de praxe no elevador ou na garagem, não falo com eles nem eles comigo. Não sou exceção. Nesse lamentável departamento, sou regra.
            Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem para navegar na Internet. Um dos argumentos que me dão é que posso falar com pessoas na Indonésia, saber como vão as colheitas de arroz na China e como estão os melões na Espanha.
            Uma de minhas filhas vangloria-se de ser internauta. Tem amigos na Pensilvânia e arranjou um admirador em Dublim, terra do Joyce, do Bernard Shaw e do Oscar Wilde. Para convencê-la de seus méritos, o correspondente mandou uma foto em cor que foi impressa em alta resolução. É um jovem simpático, de bigode, cara honesta. Pode ser que tenha mandado a foto de um outro.
            Lembro a correspondência sentimental das revistas de antanho. Havia sempre a promessa: "Troco fotos na primeira carta". Nunca ouvir dizer que uma dessas trocas tenha tido resultado aproveitável.
            Para vencer a incomunicabilidade, acredito que o internauta deva primeiro aprender a se comunicar com o vizinho de porta, de prédio, de rua. Passamos uns pelos outros com o desdém de nosso silêncio, de nossa cara amarrada. Os suicidas se realizam porque, na hora do desespero, falta o vizinho que lhe deseje sinceramente uma boa noite.
(CONY,Carlos Heitor. Vizinhos e internautas. Folha de São Paulo, 26 jun.1997. Opinião,p.42)
QUESTÕES PARA ANÁLISE
1) Você pensa que as mudanças na sociedade podem influir no comportamento das pessoas no espaço da família, da escola ou de outros grupos de convívio? De que forma?
2) No texto, Carlos Heitor Cony fala de mudanças que ocorreram em sua cidade nos últimos anos. No lugar onde você vive, ocorreram mudanças importantes nos últimos dez anos? Analise-as e verifique se elas alteraram o modo de vida e as relações entre as pessoas.
3) A internet nos aproxima de muitas pessoas que com freqüência nem conhecemos, mas parece que nos distancia de quem está perto de nós. O que você pensa disso?

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